Quando falamos de yoga é impossível não falar sobre meditação. Nos Yoga Sutras de Patañjali, a meditação, ou Dhyana, é o sétimo estágio – anga – do yoga, e é através dessa prática que conseguimos dissolver nosso ego e entrar no estado de hiper consciência e união com o Todo. Portanto é só através da meditação que alcançaremos o Samadhi.
Antes de explicar sobre meditação, acho válido falar um pouquinho sobre nosso sistema nervoso simpático e parassimpático.
Sistema Nervoso Simpatico e Parasimpatico
O nosso sistema nervoso simpático (SNS) é responsável pela resposta de luta e fuga. Quando nos vemos numa situação de perigo ou de estresse, esse sistema é ativado e o corpo se prepara para a ação de lutar ou fugir. Já o nosso sistema nervoso parassimpático (SNP) é responsável por nos acalmar, voltar nosso sistema para um estado de homeostase.
Em um organismo equilibrado é natural, e muitas vezes essencial, que nosso SNS seja ativado em momentos de perigo, mas logo depois que o perigo passa o organismo volta para nosso estado normal.
Hoje em dia vivemos num estado de estresse tão grande, como se estivéssemos vivendo em constante perigo, que não conseguimos mais voltar para o estado de equilíbrio. E é aí que está o problema.
A meditação ajuda muito a treinar nosso sistema nervoso, facilitando a volta, e a permanência, do nosso organismo para um estado mais calmo e equilibrado. Com a prática regular e disciplinada conseguimos acalmar as flutuações da nossa mente muito mais facilmente.
Os últimos 4 angas de Patañjali
Atualmente chamamos de meditação as ferramentas utilizadas que nos ajudam a entrar no estado de abstração dos nossos sentidos e união com o objeto de concentração, mas vale aclarar que meditação é o estado em si e não as ferramentas.
É uma prática muito íntima e pessoal, que envolve o processo de autoconhecimento, e diferente do que muitos pensam, meditação não é cessar todos os nossos pensamentos (isso seria impossível!) mas é trazer a consciência pro momento presente e ser capaz de observar os pensamentos que aparecem sem julgamento e sem se apegar a eles.
Para poder explicar um pouco melhor os passos da prática de meditação, vou citar os últimos 4 angas, dos Yoga Sutras de Patañjali:
Pratyahara
É o controle dos nossos sentidos, é o aumento do nosso domínio sobre as influências externas o que permite que a mente possa focar no seu interior. Algo que muita gente confunde é a ideia de que temos que “desligar” nossos sentidos. Isso não é possível, a ideia de pratyahara é não nos apegarmos aos estímulos externos. É possível que durante a prática você escute um carro passando, mas esse ruído não vai te tirar a concentração, você sabe no que precisa focar e o resto não te distrai. Se você não consegue se desligar dos estímulos externos, é muito difícil que você entre no estado meditativo.
Dharana
É a concentração plena. É natural que nossa mente fique mudando de um pensamento para outro e muitas vezes são muitos estímulos externos. Mas é possível treinar nossa mente para que ela seja menos dispersa e possamos de fato nos concentrar e focar naquilo que é preciso. Essa prática consiste em utilizar algum objeto de concentração que pode ser:
- A própria respiração
- Algum objeto externo
- Visualização interna de alguma imagem
- Mantras
- As batidas do seu coração
- Atenção em alguma parte do corpo ou chakra
- O silêncio interno
O importante é focar somente nesse objeto. Isso permite que as flutuações diminuam, e esse é um passo importante que antecede Dhyana.
Dhyana
É o estado de meditação, quando passamos de apenas nos concentrar no objeto a nos identificar com ele. É como se houvesse uma união entre você e esse objeto. Nesse momento você já não tem mais interferências externas ou mesmo internas.
Samadhi
É o estado de hiperconsciência, de identificação com o Absoluto. Esse é o objetivo final do yoga.
Benefícios da prática de meditação
São inúmeros os benefícios, mas para citar alguns:
- Relaxa o corpo e mente
- Facilita o processo de autoconhecimento e consequentemente a superação de obstáculos
- Nos conecta com níveis mais elevados de consciência
- Diminui a pressão arterial
- Diminui os níveis de estresse e ansiedade
- Melhora qualidade do sono
- Nos ajuda a ver o mundo com outras perspectivas
- Nos traz sentimentos de felicidade plena e bem estar
- Treina nosso sistema nervoso para ativar o SNP e voltar a um estado de equilíbrio
- Melhora nossa concentração
- Aumenta a criatividade
Tipos de meditação
Como já falei anteriormente, muitas vezes chamamos de meditação as ferramentas que nos levam a esse estado. O bom é que temos vários tipos de práticas e o ideal é que você pratique cada uma delas e veja qual se identifica mais.
Meditação guiada
É ideal para quem está começando e se sente muito ansioso. Muitas vezes quando estamos muito estressados é difícil parar por um tempo e somente ficar em silêncio. Por isso, comece pela meditação guiada para conseguir diminuir a ansiedade e poder evoluir para as outras técnicas.
Meditação ativa
É uma meditação que fazemos em movimento. O importante é trazer a consciência pro momento presente, e de fato prestar atenção nos movimentos e na sua respiração. Você pode praticar fazendo uma caminhada, por exemplo. Preste atenção em cada passo, em como está sua respiração, quais as sensações do seu corpo, em como está a sua mente e pensamentos, traga a atenção para esse momento.
Meditação taoísta
Uma das práticas da filosofia taoísta. Existem diferentes técnicas, dependendo de cada escola. Uma delas é acalmar nosso corpo começando com movimentos lentos e que vão suavizando pouco a pouco até o corpo ficar estático, e com o corpo mais calmo, visualizar o fluxo da energia vital percorrendo em todo nosso organismo. Essa prática vai nos permitir entrar num estado de harmonia, nossa respiração entra em um ritmo natural e diminuímos o fluxo de pensamentos. Os estados finais dessa meditação são de quietude, onde não há mais ação mental ou sensorial e portanto há conexão com a nossa consciência.
Meditação com visualizações
A mente humana tem grande capacidade de criação, e por isso, essa técnica é muito potente. Visualizar é criar situações, cenários, emoções, experiências que vão ser sentidas por todo o nosso corpo. Você pode se visualizar num ambiente agradável, pode ser num gramado, você sente o toque da grama, um leve calor vindo do sol, e você vai visualizando este momento ao ponto da sua energia começar a agir, mudando sua frequência e vibração, e o corpo também responde criando estados de relaxamento, felicidade, etc. Você cria sua realidade.
Mindfulness
Com certeza você já escutou falar sobre mindfulness, já que essa técnica vem crescendo muito e significa atenção plena, trazer sua atenção de forma consciente para o momento presente, em tudo que você faz, vivencia e experimenta.
Meditação utilizando a respiração
Você pode também usar como objeto de concentração a sua própria respiração. Apenas sente-se de forma confortável e sem interferir na respiração, observe o ritmo, a temperatura do ar, sensações nas diferentes partes do corpo e foque apenas nisso.
Como vimos existem diversas formas para você começar no caminho da meditação, se desapegue da ideia de que essa prática é apenas para pessoas que são “zen” ou mais espirituais. Meditar é olhar pra dentro de si e qualquer um pode fazer. Não se limite por achar que tem que ter muito tempo ou pela ideia de que não vai conseguir parar os pensamentos, como falei antes, essa não é a ideia. Como tudo no yoga, aprenda a observar seu próprio corpo e mente e adapte as práticas para que você possa mantê-las e assim evoluir.
Ana Luiza
Sou instrutora de yoga formada pela Escola Yoga em Movimento. Compartilho práticas de yoga acessíveis, que promovem bem-estar físico e mental, sempre respeitando o ritmo e a individualidade de cada pessoa. Minha abordagem é sem cobranças e sem misticismos, com base em estudos sobre os efeitos do yoga no corpo, na mente e no sistema nervoso.
